O Código Civil considerava a mulher casada “civilmente incapaz”. Para trabalhar, a mulher precisava da autorização do marido. A família se identificava pelo nome do homem, sendo a mulher obrigada a adotar os sobrenomes do marido. O casamento era indissolúvel; só havia o “desquite”, que rompia o acordo conjugal, mas não dissolvia o casamento.
Operárias
A mulher tinha sempre os salários mais baixos e as jornadas de trabalho maiores. Não havia uma legislação que protegesse o trabalho feminino. Haviam reivindicações acerca das péssimas condições de trabalho, da carga horária elevada e do assédio sexual nas fábricas, mas nenhuma mudança era realizada.
A maioria dos equipamentos de trabalho, especialmente os industriais, eram fabricados sob medida para o homem, cabendo à mulher se adaptar aos mesmos para o manuseio. Isto resultou, muitas vezes, em graves problemas de saúde, devido à posição com que permaneciam trabalhando por longas jornadas.
A crescente incorporação das mulheres no mercado de trabalho e na esfera pública levantou uma ampla discussão. Muitos afirmavam que o trabalho feminino fora do lar levaria a desagregação da família, uma vez que toda a responsabilidade dos afazeres domésticos e educação dos filhos era posta sobre a mulher.
Sufrágio
A maioria das Constituições latino-americanas do século XIX sequer proibiam o voto feminino, pois o título de cidadão era dado apenas aos homens. Quando as mulheres resolveram, então, reivindicar seu direito de voto, algumas Constituições foram modificadas para estabelecer expressamente que a mulher não poderia votar.
O voto feminino só se tornou realidade no Brasil graças à intensa luta das mulheres por esse direito. As primeiras iniciativas surgiram no país no final do século XIX, mobilizando uma parcela expressiva de mulheres de diferentes classes sociais.
Participantes do II Congresso Internacional Feminista no Recreio dos Bandeirantes no Rio de Janeiro.
Em 1927, o presidente da província (equivalente a governador do Estado) do Rio Grande do Norte permitiu pela primeira vez o direito ao voto para as mulheres. Em abril de 1928, 15 mulheres votaram, mas esses votos não foram reconhecidos a nível federal. No mesmo ano, Alzira Soriano foi eleita prefeita no município de Lajes (RN) com 60% dos votos, tornando-se a primeira mulher do país a atingir esse cargo.
Eventos e Organizações
1906
É realizado o I Congresso Operário Brasileiro, no qual foi aprovada a regulamentação do trabalho feminino.
1910
Formação do Partido Republicano Feminino por Leolinda Daltro e Gilka Machado, primeiro partido político liderado por mulheres. Por mais que ainda não fossem eleitoras nem elegíveis, suas motivações eram conscientizar a sociedade e batalhar pelos direitos femininos.
1920
Maria Lacerda de Moura e Bertha Lutz fundam a Liga Para a Emancipação Internacional da Mulher (LEIM), grupo de luta pela igualdade política das mulheres.
1922
Surge a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF), organizada por Bertha Lutz, que atuou fortemente na política brasileira em defesa da inserção da mulher no mercado de trabalho, o direito à educação e a conquista do voto feminino.
Mulheres que se destacaram
Alice Tibiriçá: Lutas e Ideais, Maria Augusta Tibiriçá Miranda.
Alice Tibiriçá
(1886-1950)
Nascida em Minas Gerais, foi uma importante ativista política e militante. Fundou a Federação de Mulheres do Brasil em 1949 e presidiu-a até o ano de sua morte. É considerada a responsável pela comemoração do Dia da Mulher no Brasil, após enviar uma carta com este pedido para o presidente da época, Getúlio Vargas, em 1931. No ano seguinte, sua reivindicação foi atendida por um decreto presidencial, tornando a data oficial em território brasileiro.
Anita Malfatti
(1889-1964)
Paulista, foi uma das pioneiras e principais artistas do movimento modernista no Brasil. Destacou-se na Semana de Arte Moderna, em 1922, sofrendo duras críticas da imprensa por suas obras inovadoras para a época. Alcançou visibilidade internacional, expondo em Paris, Berlim e Nova Iorque.
Antonieta de Barros
(1901-1952)
Filha de uma ex-escravizada, nasceu em Santa Catarina e, além de atuar como jornalista e educadora, foi a única negra entre as três primeiras mulheres eleitas no Brasil: em 1934, primeira eleição em que as mulheres brasileiras puderam participar como eleitoras e candidatas, foi eleita deputada estadual em seu estado natal. Se engajou na luta social e política pela igualdade racial e de gênero, também atuando na Frente Brasileira para o Progresso Feminino.
Bertha Lutz
(1894-1976)
Nascida no estado de São Paulo, foi uma das maiores representantes do movimento sufragista no Brasil, defendendo também os direitos femininos ao trabalho e a educação. Desenvolveu importantes pesquisas científicas, ganhando reconhecimento internacional. Em 2001, foi instituído pelo Senado brasileiro o Diploma Mulher Cidadã Bertha Lutz para homenagear anualmente cinco mulheres que tenham se destacado na luta pelos direitos femininos no Brasil.
Carmen Miranda
(1909-1955)
Nascida em Portugal, mas criada no Rio de Janeiro, tornou-se rapidamente uma cantora popular. Seu primeiro disco vendeu 35 mil cópias, um recorde para a época. Em 1939, foi para Hollywood, tornando-se a artista mais bem paga dos Estados Unidos na década de 40.
Cecília Meireles
(1901-1964)
Professora, jornalista e escritora, teve mais de cinquenta obras publicadas. Começou na escrita ainda jovem e seu primeiro trabalho foi publicado aos 18 anos. Apesar de ter explorado muitos estilos literários, Cecília acabou por se consagrar no universo da poesia e da literatura infantil. Também fundou a primeira biblioteca infantil do Rio de Janeiro no ano de 1934.
Cora Coralina
(1889-1985)
Goiana, cursou a escola apenas até a terceira série do curso primário, mas tornou-se famosa poetisa. Seus versos só foram publicados pela primeira vez quando a autora tinha 75 anos - aprendeu datilografia sozinha para conseguir organizar os seus poemas e enviar aos editores. Recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela UFG e ocupou a cadeira número 3 da Academia Goiana de Letras.
Nise da Silveira
(1905-1999)
Psiquiatra que revolucionou os tratamentos de saúde mental no Brasil. Formou-se em medicina em 1926 e trabalhou no Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II, no Rio de Janeiro. Lá, desenvolveu tratamentos através da arteterapia, da interação com os animais e de acolhimento, após muita luta contra os métodos violentos e desumanos da época. Com as pinturas produzidas por seus pacientes, criou o Museu de Imagens do Inconsciente.
Olga Benário
(1908-1942)
Militante alemã de origem judaica, foi enviada ao Brasil em 1934 para apoiar o Partido Comunista Brasileiro e garantir a segurança de Luís Carlos Prestes. A revolução foi fortemente reprimida pela ditadura de Vargas no episódio conhecido como Intentona Comunista e em 1936, grávida de Prestes, Olga foi presa, torturada e deportada para a Alemanha nazista. Sua filha, Anita Leocádia Prestes, ficou sob sua guarda somente durante alguns meses, sendo entregue à família paterna em seguida. Em abril de 1942, Olga foi executada na câmara de gás em um campo de concentração.
Pagu
(1910-1962)
Nascida em São Paulo, Patrícia Rehder Galvão, conhecida como Pagu, foi artista e militante política, destacando-se por seu comportamento considerado extravagante e a frente de seu tempo. Em 1928, integrou-se ao movimento antropofágico sob influência de Oswald de Andrade, com quem se envolveu enquanto ele ainda era casado com Tarsila do Amaral, um escândalo para a época. Ingressou também no Partido Comunista Brasileiro, em 1931, dando início a militância e ao ativismo que a levaram a ser presa 23 vezes ao longo de sua vida, sofrendo com a tortura da ditadura de Vargas. Além das tiras e colunas em jornais, também publicou contos e romances, além de atuar como desenhista e ilustradora.
Rachel de Queiroz
(1910-2003)
Autora de destaque cearense, foi a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras, em 1977, e a primeira a receber o Prêmio Camões. Recebeu o prêmio da Fundação Graça Aranha por seu primeiro romance, publicado quando tinha apenas 20 anos.
Tarsila do Amaral
(1886-1973)
Autora da célebre tela Abaporu, a pintura brasileira mais valorizada da história, é um dos nomes centrais da primeira fase do modernismo artístico no Brasil. Foi uma das responsáveis pela organização da revolucionária Semana de Arte Moderna de 1922.