Resistência
Durante a ditadura militar, as mulheres também foram protagonistas na luta pela liberdade. Participaram de organizações clandestinas, saíram à procura de filhos e parentes desaparecidos e foram também assassinadas por militares. Quando capturadas, enfrentaram violentas torturas, incluindo violência sexual.
“O corpo da mulher, sempre objeto de atenção, tornou-se presa do desejo maligno do torturador e ficou entregue em suas mãos. Autorizado por seus superiores e mandantes, o servidor torturador incorporou ingredientes próprios e piores ao ato que, por delegação, lhe foi solicitado e previamente permitido.” (O Movimento Feminista no Brasil: Trajetória e Conquistas)
Nas estratégias militares, as mulheres executavam tarefas de observação e levantamento de informações, uma vez que eram consideradas mais ágeis e furtivas, capazes de se misturar na multidão com maior facilidade. Sua inclusão na luta armada se deu somente após muita exigência.
Operárias
Com o desenvolvimento tecnológico, houve um amplo ingresso de mulheres nas crescentes indústrias e empresas, mas ainda sem os mesmos direitos profissionais dos homens. No fim da década de 70, eclodiram diversas greves operárias, das quais as mulheres participaram ativamente.
Hidrelétricas se manifestam. Órgão do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Energia Elétrica de BH 21.
Nesta época, a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) ainda proibia o trabalho noturno para mulheres e a presença feminina em construções civis. Já havia legislação referente à licença-maternidade desde 1943, mas com uma garantia de somente 84 dias. Na prática, o que acontecia era a demissão das funcionárias quando engravidavam.
Imprensa
Os jornais femininos desta época já eram muito mais questionadores e revolucionários do que os antigos, marcos tanto da luta feminista quanto da resistência à ditadura militar. Assuntos como aborto, violência doméstica e sexual, controle de fertilidade e sexualidade começaram a ser discutidos. Contudo, temáticas que diziam respeito às mulheres em específico eram taxadas de sexistas, pois “dividiam os homens e as mulheres, desviando-os da luta política”.
Eventos e Organizações
1968
Com as muitas manifestações e protestos estudantis por parte dos jovens, mães se unem para a defesa de seus filhos por meio de organizações como a União Brasileira de Mães e o Clube das Mães.
CLUBE DAS MÃES
1973
Surge o Movimento do Custo de Vida, um dos primeiros movimentos populares e de massas após o AI-5. Construído e dirigido por mulheres da periferia, seus principais protestos eram em relação ao alto custo de vida, salários baixos e necessidade de creche. Um dos abaixo-assinados elaborados por este grupo recebeu 1,3 milhões de assinaturas.
1975
Ocorre o primeiro Encontro de Mulheres do Rio de Janeiro, com o propósito de comemorar o Ano Internacional da Mulher, declarado pela ONU. Neste evento,
foi criado o Centro de Desenvolvimento da Mulher Brasileira.
★ Também nesse ano, Therezinha Zerbini funda o Movimento Feminino pela Anistia, que mais tarde fez parte do Comitê Brasileiro pela Anistia e foi decisivo para a aprovação da Lei da Anistia, nº 6.683/79, em 28 de agosto de 1979.
1978
Acontece o I Congresso da Mulher Metalúrgica. Cerca de 300 mulheres participaram, mas só havia homens na mesa de administração. Diversas operárias foram demitidas antes e durante o evento para impedir sua participação.
1979
Ocorre o I Congresso da Mulher Paulista, que surtiu muita repercussão e foi tratado de maneira muito positiva pela imprensa. Durante o evento, surge o Movimento de Luta por Creche, reunindo por volta de 800 mulheres.
1980
Acontece o II Congresso da Mulher Paulista, no qual a questão da violência doméstica foi muito discutida. A partir daí, foram criados o SOS-Mulher e o Centro de Defesa da Mulher em diversos estados, entidades autônomas com o objetivo de atender mulheres vítimas de violência. Em menos de um ano, o SOS-Mulher de SP registrou 700 casos de violência contra a mulher. Porém, os delegados e juízes ainda majoritariamente absolviam os acusados, insistindo em “reconciliação”.
Conquistas
★ Lei de Igualdade de Oportunidade de Crédito (1974)
Aprovada em 1974, permitiu que mulheres portassem um cartão de crédito. Até este ano, solteiras ou divorciadas que solicitassem um cartão ou um empréstimo precisavam levar um homem para assinar o contrato, enquanto as casadas precisavam da autorização do marido.
★ Lei do Divórcio (1977)
Somente a partir de 1977 o divórcio se tornou uma opção legal no Brasil, a partir da Lei nº 6.515/77. As mulheres também enfim deixaram de ser obrigadas a adotar o sobrenome do marido após o casamento. Porém, mesmo anos após a aprovação desta lei, mulheres divorciadas ainda permaneciam mal vistas pela sociedade.
★ Permissão para a prática de esportes (1979)
Em 1979, foi revogada a proibição de que as mulheres praticassem qualquer tipo de esporte, que atuava desde a publicação do decreto 3.199 de 1941: “Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza [...]”. Contudo, suas consequências refletem no esporte feminino até hoje, como o pouco incentivo ao futebol feminino e a falta de patrocinadores.
★ Primeira rede municipal de creches (1979)
O Movimento de Luta por Creche atingiu grandes proporções no fim da década de 70, o que deu origem à primeira rede municipal de creches no Brasil.
Mulheres que se destacaram
Glória Maria
(1949-)
Nascida no Rio de Janeiro, foi a primeira repórter a aparecer ao vivo na TV, enfrentando o racismo e o preconceito. Entrevistou chefes de Estado na época da ditadura militar, cobriu a Guerra das Malvinas, a invasão da Embaixada brasileira do Peru e a Copa do Mundo de 1998.
Marília Gabriela
(1948)
Paulista, foi jornalista de destaque na TV brasileira, trabalhando como apresentadora do “Jornal Hoje”, repórter especial no “Fantástico”, âncora do programa “TV Mulher” e chegou a ter seu próprio programa na rede Bandeirantes em 1985, “Marília Gabi Gabriela”, e outro pela emissora SBT em 1997, “De Frente com Gabi”. Também atuou como atriz, cantora e dubladora.
Rita Lee
(1947)
Nascida na cidade de São Paulo, a cantora, compositora e ativista é conhecida como “Rainha do Rock Brasileiro”, acumulando mais de 55 milhões de discos vendidos. Referência no âmbito musical, suas composições incluem diversas críticas sociais e reivindicações pelos direitos das mulheres. Em 2008, foi eleita pela revista Rolling Stone como uma das 100 Maiores Artistas da Música Brasileira.
41 mulheres mortas durante a Ditadura Militar são destacadas no livro Breve História do Feminismo no Brasil; quase todas foram violentamente torturadas. Estima-se, no total, mais de 400 mortes e desaparecimentos políticos no Brasil entre 1964 e 1988.